“Da memória e seus lapsos”, série realizada em 2000, busca através da fotografia, as lembranças ou esquecimentos (foto)gravados na memória. As imagens não surgem de forma linear, são pensamentos ou “memórias” de lugares sem tempo. São resultados da relação entre fotografia, olhar, memória, pintura e cinema. As fotografias em preto e branco são reveladas com pincel, sofrem manipulação, deformações e interferência da pintura.
“Entre 1999 y 2000, Lela mergulha nos processos próprios do meio. Realiza experiências que vão além do momento do enquadramento da composição ou do disparo do obturador. Interferindo no momento da ampliação das fotografias, seja pelos movimentos com a folha de papel fotográfico, seja pelo uso do revelador com pincel, a artista reabre a série de invenções de Varais em nova chave. A ficção de suas imagens se torna mais densa e complexa. A começar pela escolha dos locais fotografados: são casas velhas e/ou abandonadas. Habitações que poderiam incluir visões de fantasmas e outros seres sobrenaturais, não fossem, elas mesmas, os fantasmas. As distorções realizadas na ampliação das fotografias destas casas abandonadas, tornam a estrutura, antes fixa e decadente, em superfície volátil, amiga do vento e da neblina. É como se essas paredes de alvenaria fossem feitas de névoa. E suas janelas, abertas à penumbra, fossem fantasmas fugindo à revelação. E revelar adquire então sua conotação mais precisa: mostrar duas vezes – mergulhar no devaneio da imagem”.
Fernando Lindote, 2003