Extravios, Galeria Pedro Paulo Vecchietti, 14ª Bienal Internacional de Curiiba – Polo SC. Florianópolis/SC, 2019.
A Nau de frangere está fadada a exercitar o seu nome. Fracassa, naufraga, extravia-se. Rompe com a lógica da esperança, do destino, do único desejo de prumo: o mirar o porto e dele apropriar-se. A Nau de frangere é a imagem dos que não chegaram, dos que em extravio não escreveram a história e configuram um fantasma de possibilidades futuras. Entre as fronteiras de água e terra, os naufrágios são, por excelência, parte constituinte do imaginário e história de países litorâneos. A Nau que ensaia a imagem neste texto é pura ficção, mas é também genuína. Quando o destino de uma Nau fracassa, o naufrágio é iminente, e a imagem que é gerada propicia o pensamento sobre o encontro dos tempos, as fronteiras física e mental que essa embarcação transita, o destino que temos ou perdemos, o extravio histórico de que somos participes. Em Extravios de Lela Martorano, as naus do fracasso se mostram presentes. Através da exploração e manipulação de arquivos fotográficos da internet, Lela cria uma instalação que possibilita a ativação de um imaginário coletivo, por entre imagens de distintos naufrágios. Em uma sequência, a instalação proposta explana sobre o fracasso e desaparição em sete atos, sete barcos. Como em outros trabalhos da artista, suas criações transitam entre a coexistência de distintas camadas imagéticas de tempo, compondo um território de invenção e reconstrução, no intuito do exercício da memória. Os Extravios das embarcações que a instalação de Lela propõe, ativam a noção de reconhecença e sinalizam o território poético e amargo do desaparecimento.
Francine Goudel CURADORA